Olha,
o primeiro emprego pode ser resumido em uma palavra: assustador. Assustador, em
todos os – e quaisquer – sentidos que essa palavra possa adotar, bons e ruins –
e os bons existem. Mais uma vez eu pisei em um lugar sem saber o que ia
encontrar. Aquela espécie de sentimento “saltei de paraquedas” voltou a me
rondar. Apesar disso, dessa vez foi menos pesado do que das outras. Porém, de
novo, o aprendizado é diário.
Eu
aprendi que se você procura o primeiro emprego e tem mais de 18 anos, os
olhares perplexos serão lançados com constância. “Primeiro emprego com 19 anos?
Nossa, e você ficou fazendo o que até hoje??!” - esse comentário foi o melhor
que me foi atirado.
Eu aprendi que não importa se você
trabalha no local há 10 milênios ou há dois dias, algumas pessoas acham que você
tem, sim, a obrigação de saber a história de cada lajota que circunda o
estabelecimento. Dei-me conta, também, de que Ariana Grande e 5 Seconds Of
Summer andam fazendo uma lavagem cerebral massiva no público juvenil – ainda
assim, vendi dois Bangerz, e induzi um cliente à compra de um DVD do show da Hannah
Montana.
Aprendi - depois de longas horas
diárias – as músicas que compõem a trilha sonora da novela “Império”, afinal é
o único álbum que preenche todos os pré-requisitos – básicos – pra poder ser
executado no ambiente. Aprendi que qualquer abordagem em clientes do sexo
feminino pode ser mal interpretada: “A senhora procura alguma coisa?”... “Sim,
o meu marido.” – isso me aconteceu mais de uma vez, acreditem.
Além disso, aprendi que pessoas com as
quais pratiquei bullying, hoje, mandam e desmandam em mim – justo. Aprendi que
pessoas que, um dia, praticaram bullying comigo, hoje, se veem obrigadas a
pedir ajuda e depender de mim – a vingança nunca é plena, tá, tá, Seu Madruga...
Aprendi que você vai sonhar com os
clientes, e vai passar os dias se perguntando se os recepcionou com a
cordialidade necessária – e se atendeu aos pedidos corretamente, não
confundindo “God of War” com “Shadows Of Morder”.
Vi que todo, e qualquer ser humano,
possui dúvidas, dificuldades em lidar com frustrações, sentimentos desconexos e
a simples vontade de querer ser alguém melhor – pois é, às vezes um vendedor
pode se tornar um confidente. Aprendi
que estamos aqui pra viver e morrer por algo maior – ainda que esse “maior” e
“menor” sejam imensuráveis, e pessoais.