domingo, 28 de dezembro de 2014

Confissões De Um Vendedor

        Olha, o primeiro emprego pode ser resumido em uma palavra: assustador. Assustador, em todos os – e quaisquer – sentidos que essa palavra possa adotar, bons e ruins – e os bons existem. Mais uma vez eu pisei em um lugar sem saber o que ia encontrar. Aquela espécie de sentimento “saltei de paraquedas” voltou a me rondar. Apesar disso, dessa vez foi menos pesado do que das outras. Porém, de novo, o aprendizado é diário.
 Eu aprendi que se você procura o primeiro emprego e tem mais de 18 anos, os olhares perplexos serão lançados com constância. “Primeiro emprego com 19 anos? Nossa, e você ficou fazendo o que até hoje??!” - esse comentário foi o melhor que me foi atirado.
         Eu aprendi que não importa se você trabalha no local há 10 milênios ou há dois dias, algumas pessoas acham que você tem, sim, a obrigação de saber a história de cada lajota que circunda o estabelecimento. Dei-me conta, também, de que Ariana Grande e 5 Seconds Of Summer andam fazendo uma lavagem cerebral massiva no público juvenil – ainda assim, vendi dois Bangerz, e induzi um cliente à compra de um DVD do show da Hannah Montana.  
         Aprendi - depois de longas horas diárias – as músicas que compõem a trilha sonora da novela “Império”, afinal é o único álbum que preenche todos os pré-requisitos – básicos – pra poder ser executado no ambiente. Aprendi que qualquer abordagem em clientes do sexo feminino pode ser mal interpretada: “A senhora procura alguma coisa?”... “Sim, o meu marido.” – isso me aconteceu mais de uma vez, acreditem.
         Além disso, aprendi que pessoas com as quais pratiquei bullying, hoje, mandam e desmandam em mim – justo. Aprendi que pessoas que, um dia, praticaram bullying comigo, hoje, se veem obrigadas a pedir ajuda e depender de mim – a vingança nunca é plena, tá, tá, Seu Madruga...
         Aprendi que você vai sonhar com os clientes, e vai passar os dias se perguntando se os recepcionou com a cordialidade necessária – e se atendeu aos pedidos corretamente, não confundindo “God of War” com “Shadows Of Morder”.
         Vi que todo, e qualquer ser humano, possui dúvidas, dificuldades em lidar com frustrações, sentimentos desconexos e a simples vontade de querer ser alguém melhor – pois é, às vezes um vendedor pode se tornar um confidente.  Aprendi que estamos aqui pra viver e morrer por algo maior – ainda que esse “maior” e “menor” sejam imensuráveis, e pessoais.


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