quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Carta.

Eu sei o que você está fazendo
Você anda pelo quarto, apressada
Falando ao telefone
Uma conversa que não leva a nada
Evitando que o amor desmorone

Você não sabe o que eu estou fazendo
Eu a espio pelo muro
Vejo-a através da janela
Planejo nosso futuro
Enquanto cambaleio em linha reta

Você me deixaria entrar?
Será que eu poderia entrar?
Talvez você não saiba
Você é a única que poderia me salvar

Eu guardo sua carta
Ela veio de muito longe
Longe o suficiente pra me fazer guardar
Guardar essas palavras
Palavras que eu volto a olhar
A olhar quando lembro que você se foi
Guardarei por muitos anos
Anos, estes, solitários?
Guardarei ate você voltar
Mesmo sem saber se você vai voltar
Responda-me, minha cara
Você vai voltar?

Eu seguro minha alma pelos dedos
O sol cruza sua janela
Enquanto eu cruzo o campo do lado de fora
Quem sabe, estou à sua espera
Quem sabe, eu ainda a ame, tanto, ainda, agora

A caligrafia, eu interpreto 
O seu rosto, hoje, é resto
Talvez você não saiba
Você é a única que poderia me salvar

Eu sei o que você está fazendo
Você olha ao seu redor
Estaria, eu, nessas lembranças?
Eu te sinto aqui
Você esperaria por mim?
Eu ainda preencho suas lembranças?                                                                                                        - Alexandre Vargas 

domingo, 23 de novembro de 2014

Dear Miley,

            Antes de começar qualquer coisa vamos esclarecer alguns tópicos: Eu escreverei como se fosse algum tipo de carta; eu tenho – plena – consciência de que pode soar um tanto estúpido sabendo que as chances de você chegar a ler isso – um dia – são nulas.
            Bom, Miley, já te vi no “pole dance”, fazendo lap-dance em um senhor mais velho, lambendo um bolo em formato de pênis, e, depois, um martelo. Já te vi cortar – e raspar – o cabelo, aquele com o qual você gastava mais de 40 mil dólares por mês pra manter. O que mais, ah, já te vi em poses intrigantes regadas de uma conotação – altamente – sexual e apelativa no topo de um carro, fumando sálvia, já li você dizer que jamais fumaria pois isso seria – extremamente – prejudicial à saúde. E te vi, alguns anos mais tarde, fazer uma maçante apologia às drogas. Já te ouvi dizer que estava cansada de músicas que tratavam apenas de festa e futilidades, e, então, te vi lançar, alguns anos mais tarde, “We Can’t Stop” – hino do hedonismo. Eu assisti a uma libertação pessoal, assisti – de camarote – a um movimento, como você mesma chama. E o mais engraçado disso tudo é que você também me viu crescer. Miley, você não me conhece, mas eu sinto que esteve ao meu lado nesses seis anos. Você também – de certa forma – me viu entregar-me por completo a uma aceitação de mim mesmo.
            Digo isso porque me lembro de quando tinha 13 anos. Eu costumava entrar nas lojas procurando coisas sobre você, e era mais ou menos assim: “Isso? Ah não, isso é pra minha irmã mais nova! Ela ama essa tal de Miley, seja lá quem for!” Naquela época eu nutria uma espécie de vergonha. Bem, eu tinha 13 anos, eu era um menino, e eu adotei – sem qualquer tipo de restrição – Hannah Montana como um ídolo. Sabe, quando eu fui assistir “Hannah Montana – O Filme” nos cinemas foi estranho. A sala estava repleta de garotinhas retardadas acompanhadas de suas mães. Elas me olhavam torto. Tipo, muito torto mesmo, como se eu fosse algum tipo de pedófilo – ou, sei lá, um retardado mental, um” infantilóide”.
            Mas eu, honestamente, não via nada de errado em ser seu fã. E eu ainda não vejo – embora devesse devido à imagem absurda e patética a qual você adotou. Só que eu passei muito tempo tentando te camuflar, mas depois do seu primeiro show aqui no Brasil – em 14/05/2011 – eu percebi o quão inútil era. Você me ensinou a não desperdiçar meu tempo aqui embaixo, você me ensinou o quão bom é apresentar-se verdadeiramente. E isso é algo que eu recomendo a todos: adotem a transparência consigo mesmos.
            Quando eu me formei no colégio, em 2012, eu pensei que você seria como ele: uma etapa finalizada e que seria pra sempre guardada no meu coração. O colégio acabou e – parte dele – está no meu coração. Mas você, ah, você não acaba. Você não passa. Por quê? Talvez porque esse amor é verdadeiro, genuíno e honesto. É amar sem pedir nada em troca – mentira, eu peço pra você voltar a ter cabelo, a ser gostosinha, não falar mal da Hannah, tirar Wayne-Trash da sua vida, e largar as drogas.
            Prova desse amor verdadeiro é o fato de a minha imagem estar veementemente ligada à sua. Hoje, sempre que meus amigos te ouvem ou te veem, eles se lembram de mim. Eu me sinto importante, não nego. Eu rio quando as pessoas se dirigem até mim e me perguntam: “Você ainda é fã da Miley Cyrus??”. Por que eu não seria? Apenas porque você se encontra em um estado deplorável? Feia? Escrota? Não, é preciso muito mais do que isso.
            Eu e meu pai fomos ao show da Gyspy Heart em 2011. Foi, sem a menor sombra de dúvidas, o momento mais feliz da minha vida. Primeiro porque eu estava indo ao seu encontro, e, segundo porque eu estava indo com meu pai. Sabe, Miley, nós éramos um tanto distantes, mas depois daquele dia, as coisas mudaram, eu não tenho como te agradecer por isso. No ano seguinte ele, infelizmente, faleceu. Na noite do ocorrido meu celular começou – inesperadamente – a tocar “These Four Walls”. Até hoje eu acho que era meu pai tentando se despedir de mim através de você, como se você fosse ser – pra sempre – uma ponte de ligação entre mim e ele. Tudo bem, pode ser loucura, mas eu gosto de pensar assim. E eu queria muito ouvir o que ele teria a dizer sobre você hoje.
            E no começo desse ano aconteceu um dos episódios mais difíceis na minha vida. Eu sofri um acidente e tive que ser levado para uma UTI. Quando voltei pra casa – palavras da minha mãe – eu não me lembrava de ninguém, exceto de uma pessoa: você. (Será, Brasil?)
            Você me salvou, Miley. Inúmeras vezes. Eu não posso nem ao menos imaginar como deveria lhe pagar. Eu tirei várias pessoas desnecessárias da minha vida, e, mantive outras. Tudo com base em suas palavras. E eu tenho certeza de que quem estiver lendo isso e for alheio a você deve estar pensando: “O que essa piranha tem a dizer?”. Amigos, ela tem sim muito a dizer.
            Mas o intuito desse discurso todo era chegar aqui: Feliz aniversário, Destiny! Eu amo você, espero poder te acompanhar por muitos anos, e espero que você me veja por muito mais tempo ainda. Hoje eu te vejo feliz, livre, e cheia de vida, e isso me conforta. “Well, I’ve been afraid of changing cuz I’ve built my life around you...” “I will always want you…”

Alexandre Vargas, 23/11/2014. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

And me.

And me, walking out of bus on tuesday
And me, thinking of how I'd get back home
And me, with empty pockets all alone
And me, smiling to erase the pain

There'd be a way
If I could light up the candle
And find out if I belong to this day

So I'll write it down
As I wait the time pass by me
I'll be big and you'll hear about me
But as I wait better days to find me
I just write it down
Until I can't hide it anymore

And me, drinking to laugh
And me, crawling my way back to my bed
And me, wiping my tears and starting it all over again
And you, waiting to get the worst of me

I spent all my pennies
If I could burn it all up
Maybe, I'd clean this mess

Just when I tried to have my life in the palm of my hands
Life brought me down
It laughs at me
It prevents me
When will I get out of this?                                                                                                                       - Alexandre Vargas


Eu odeio:

EU ODEIO:
- Traição;
- Terça-feira;
- Cabral/Osório das 18h;
- Cabral/Portão das 18h;
- Perder o ônibus;
- A palavra “suculenta” (Nossa, como eu odeio essa palavra!);
- Tomate;
- Ervilha;
- Wayne Coyne;
- PATOS – Eu não sei pra que existem;
- Scream 3 – O pior filme da franquia;
- Talk is cheap;
- Gente que não aceita os próprios erros;
- Comida de hospital;
- Cheiro de hospital;
- Uma capinha – ridícula – da Coca-Cola que comprei pro meu celular;
- Janeiro;
- Tesoura;
- Bucho/Dobradinha;
- Sentir saudades;
- Quem cospe no prato que come/comeu;
- Acordar 5 minutos antes do despertador tocar – teste psicológico;
- Caipirinha de maracujá;
- Mudar de pista e fazer curva pra esquerda – devia ser proibido;
- O jeito que eu me comportava em 2012;
- O Alexandre de 2012;
- O final de “A Usurpadora”;
- Preconceito;
- MATEMÁTICA E FÍSICA;
- CÁLCULO;
- CONTAS;
- NÚMEROS;
- EXATAS;
- Quando demoram pra responder mensagem;
- Não ter dado valor a pessoas as quais não podem mais estar comigo;
- Ariana Grande;
- Crocs – eu ando de crocs, mas, assim, só fazendo um comentário;
- Crocs com meia – eu ando de crocs com meia, mas, assim, só fazendo um comentário;
- Contradição – eu sou contraditório, mas, assim, só fazendo um comentário.




quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Warning

        Ontem a porta aqui do banheiro da casa da minha vó deu problema. Emperrou. Parecia que fora trancada por dentro. Detalhe: não havia ninguém lá dentro. A rua da minha avó parece cidade de interior, todo mundo se conhece, todo mundo se ajuda. O vizinho veio ajudar, passamos o dia aqui vendo-o tirar-nos do sufoco. Aqui a gente costuma pensar que se não deu pra sair de casa ontem é porque não era pra sair de casa ontem. Como se fosse uma espécie de aviso. Costumo treinar direção com minha tia, todos os domingos. No entanto, houve um Domingo - de muita chuva - em que a chave do carro caiu no bueiro. Aviso? Não era pra sairmos naquele dia? Por quê? E lá vieram os vizinhos/santos/salvadores. Foi preciso quebrar o cimento - mesmo debaixo de chuva - pra recuperar a chave. Eu não pude fazer a prova do vestibular pelo qual mais esperei, a prova pela qual eu mais me preparei durante o ano. O que aconteceria se eu tivesse feito tal prova? Aviso? Fatalidade? Recomendo pra quem estiver lendo - se houver alguém lendo - seguir o mesmo raciocínio do "aviso". Não que seja uma teoria comprovada, mas alivia a alma, ainda que por pura ilusão consentida.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A rua que não existe.

Passar uns dias na minha avó é como ir de encontro à infância. Aquela, adormecida. Voltar à infância adormecida é - quase - apagar os problemas da fase atual. É como voltar a absorver as preocupações antigas - se é que eram preocupações. E, por aqui, nada mudou muito. A cobradora do ônibus continua a mesma. O mesmo acontece com a sorveteira. E o açougueiro. Talvez o único mudado por aqui seja eu. Talvez não. Perguntaram-me se não me era estranha tal rotina. Eu respondi que não. A rotina por aqui continua a mesma. Os trajetos também. Trajeto, esse, diário até a casa da minha tia - moradora de uma rua que não existe no mapa. A plantação - aquela do capeta - hoje virou quase uma construção, minha avó disse que um dia sai um Condor. E toda noite eu repito meu próprio lema: "Dispa-se das camadas. Retenha o essencial." Funciona? Ainda não sei...

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Hoje não.

Somos como dedos da mesma mão
Comum de dois
Abrem antes, fecham depois
E se o vazio da sala te invadir
Saiba que eu estarei aqui
É mais um começo fantasiado de fim
É mais um grito absorto em mim
É um sentimento anestesiado
Ou adormecido
Se o sol escondido te perguntar
Finge-te de inocente
Desvia o olhar
Mas não pensa em fugir
Pois se o sol invadir teu peito
Eu estarei aqui
Ardendo por dentro enquanto deito 
À espera de ti.                                                                                                                                                - Alexandre Vargas 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

The boy who lived.

Quando eu era pequeno eu costumava passar dias na casa da minha avó. Lembro-me de quando voltávamos pra casa dela, à noite, passávamos por uma espécie de campo, uma plantação abandonada. Era um terreno quase baldio, escuro. Era uma época em que eu fazia catequese, e lá  - às vezes -  discutíamos sobre Deus e o diabo. Enquanto cruzávamos o campo eu pensava – comigo mesmo:  “Aparece aí, diabo! Se tiver coragem.” Eu era quase o homem que desafiou o diabo. Bom, tava mais pra “o feto que não tinha o que fazer.” Quando chegavam as noites – e elas chegavam - eu me cobria com todos os lençóis e me enfiava por debaixo dos travesseiros,  tinha medo de que o cidadão viesse tirar satisfações comigo. Hoje, eu me lembro disso. Dou risada. E, hoje,  eu ainda durmo com a cabeça parcialmente coberta, ele deve ter marcado minha cara, apesar da escuridão da plantação.  

domingo, 2 de novembro de 2014

"Ah, mas se o seu irmão tivesse tirado a carteira..."

Pra minha mãe meus 18 anos significavam que eu já poderia tirar carteira de motorista e, assim, os problemas universais seriam resolvidos.

 Governo Israelense endurece penas para subversivos.
 "Também, você não quer tirar a carteira, Alexandre."

ONU determina que emissão de gases devem zerar até 2100.
"Por isso é melhor você começar essa autoescola de uma vez."

 Povo brasileiro pede intervenção militar.
"Aprenda a dirigir e evite uma tragédia, Alexandre."

“Inês, vocês vão almoçar na casa da mãe no Domingo?”
"Acho que não, o Alexandre não sabe dirigir."

“Mãe, não terei aula nesse Sábado, é recesso escolar.”
"Ah, mas se o seu irmão tivesse tirado a carteira..."