domingo, 23 de novembro de 2014

Dear Miley,

            Antes de começar qualquer coisa vamos esclarecer alguns tópicos: Eu escreverei como se fosse algum tipo de carta; eu tenho – plena – consciência de que pode soar um tanto estúpido sabendo que as chances de você chegar a ler isso – um dia – são nulas.
            Bom, Miley, já te vi no “pole dance”, fazendo lap-dance em um senhor mais velho, lambendo um bolo em formato de pênis, e, depois, um martelo. Já te vi cortar – e raspar – o cabelo, aquele com o qual você gastava mais de 40 mil dólares por mês pra manter. O que mais, ah, já te vi em poses intrigantes regadas de uma conotação – altamente – sexual e apelativa no topo de um carro, fumando sálvia, já li você dizer que jamais fumaria pois isso seria – extremamente – prejudicial à saúde. E te vi, alguns anos mais tarde, fazer uma maçante apologia às drogas. Já te ouvi dizer que estava cansada de músicas que tratavam apenas de festa e futilidades, e, então, te vi lançar, alguns anos mais tarde, “We Can’t Stop” – hino do hedonismo. Eu assisti a uma libertação pessoal, assisti – de camarote – a um movimento, como você mesma chama. E o mais engraçado disso tudo é que você também me viu crescer. Miley, você não me conhece, mas eu sinto que esteve ao meu lado nesses seis anos. Você também – de certa forma – me viu entregar-me por completo a uma aceitação de mim mesmo.
            Digo isso porque me lembro de quando tinha 13 anos. Eu costumava entrar nas lojas procurando coisas sobre você, e era mais ou menos assim: “Isso? Ah não, isso é pra minha irmã mais nova! Ela ama essa tal de Miley, seja lá quem for!” Naquela época eu nutria uma espécie de vergonha. Bem, eu tinha 13 anos, eu era um menino, e eu adotei – sem qualquer tipo de restrição – Hannah Montana como um ídolo. Sabe, quando eu fui assistir “Hannah Montana – O Filme” nos cinemas foi estranho. A sala estava repleta de garotinhas retardadas acompanhadas de suas mães. Elas me olhavam torto. Tipo, muito torto mesmo, como se eu fosse algum tipo de pedófilo – ou, sei lá, um retardado mental, um” infantilóide”.
            Mas eu, honestamente, não via nada de errado em ser seu fã. E eu ainda não vejo – embora devesse devido à imagem absurda e patética a qual você adotou. Só que eu passei muito tempo tentando te camuflar, mas depois do seu primeiro show aqui no Brasil – em 14/05/2011 – eu percebi o quão inútil era. Você me ensinou a não desperdiçar meu tempo aqui embaixo, você me ensinou o quão bom é apresentar-se verdadeiramente. E isso é algo que eu recomendo a todos: adotem a transparência consigo mesmos.
            Quando eu me formei no colégio, em 2012, eu pensei que você seria como ele: uma etapa finalizada e que seria pra sempre guardada no meu coração. O colégio acabou e – parte dele – está no meu coração. Mas você, ah, você não acaba. Você não passa. Por quê? Talvez porque esse amor é verdadeiro, genuíno e honesto. É amar sem pedir nada em troca – mentira, eu peço pra você voltar a ter cabelo, a ser gostosinha, não falar mal da Hannah, tirar Wayne-Trash da sua vida, e largar as drogas.
            Prova desse amor verdadeiro é o fato de a minha imagem estar veementemente ligada à sua. Hoje, sempre que meus amigos te ouvem ou te veem, eles se lembram de mim. Eu me sinto importante, não nego. Eu rio quando as pessoas se dirigem até mim e me perguntam: “Você ainda é fã da Miley Cyrus??”. Por que eu não seria? Apenas porque você se encontra em um estado deplorável? Feia? Escrota? Não, é preciso muito mais do que isso.
            Eu e meu pai fomos ao show da Gyspy Heart em 2011. Foi, sem a menor sombra de dúvidas, o momento mais feliz da minha vida. Primeiro porque eu estava indo ao seu encontro, e, segundo porque eu estava indo com meu pai. Sabe, Miley, nós éramos um tanto distantes, mas depois daquele dia, as coisas mudaram, eu não tenho como te agradecer por isso. No ano seguinte ele, infelizmente, faleceu. Na noite do ocorrido meu celular começou – inesperadamente – a tocar “These Four Walls”. Até hoje eu acho que era meu pai tentando se despedir de mim através de você, como se você fosse ser – pra sempre – uma ponte de ligação entre mim e ele. Tudo bem, pode ser loucura, mas eu gosto de pensar assim. E eu queria muito ouvir o que ele teria a dizer sobre você hoje.
            E no começo desse ano aconteceu um dos episódios mais difíceis na minha vida. Eu sofri um acidente e tive que ser levado para uma UTI. Quando voltei pra casa – palavras da minha mãe – eu não me lembrava de ninguém, exceto de uma pessoa: você. (Será, Brasil?)
            Você me salvou, Miley. Inúmeras vezes. Eu não posso nem ao menos imaginar como deveria lhe pagar. Eu tirei várias pessoas desnecessárias da minha vida, e, mantive outras. Tudo com base em suas palavras. E eu tenho certeza de que quem estiver lendo isso e for alheio a você deve estar pensando: “O que essa piranha tem a dizer?”. Amigos, ela tem sim muito a dizer.
            Mas o intuito desse discurso todo era chegar aqui: Feliz aniversário, Destiny! Eu amo você, espero poder te acompanhar por muitos anos, e espero que você me veja por muito mais tempo ainda. Hoje eu te vejo feliz, livre, e cheia de vida, e isso me conforta. “Well, I’ve been afraid of changing cuz I’ve built my life around you...” “I will always want you…”

Alexandre Vargas, 23/11/2014. 

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